É com prazer que apresento minhas credenciais para tratar de um tema tão complexo e delicado como o das relações entre humanos e animais. Para não criar falsas expectativas desde o início, começo apontando as coisas que não sou: não sou veterinária, não tenho formação como adestradora profissional e não sou ativista da causa da defesa animal.
De que forma posso, então, colaborar para o entendimento do mundo dos cães? Bem, minhas credenciais são as seguintes: 1)sou psicóloga – e, portanto, estudiosa do comportamento humano e animal; 2) conto com uma longa experiência de convivência com cães de várias raças e tamanhos, e 3) sou uma pessoa extremamente curiosa. Com isso quero dizer que devoro com avidez todo e qualquer texto ou vídeo que faça referência à relação entre humanos e seus cães.
Desde menina infernizei a vida de meus pais para que me permitissem criar um cachorro, ainda que tenha falhado em todas as tentativas. Como éramos 5 filhos e morávamos em apartamento, não havia argumento capaz de persuadir não só minha família mas também vizinhos e síndicos. Muito mais tarde, quando eu já era adulta e meus pais já haviam se separado, conquistei meu primeiro cachorro, um Fox paulistinha hiperativo que enlouqueceu minha mãe destruindo tudo o que encontrava pela frente, de sapatos a fios elétricos, até que ela resolveu doá-lo para outra família. A ele se seguiu, anos depois, um mestiço de vira-lata e pastor alemão igualmente endiabrado mas que trouxe menos dissabores, já que morávamos em uma casa e ele podia circular pelas ruas de vez em quando.
Após a morte de minha mãe, entrei em forte depressão e pouco tempo depois desenvolvi um quadro de diabetes. A conselho do meu endocrinologista, passei a fazer longas caminhadas, uma atividade que me desagradava realizar sozinha e sem destino. Decidi então ter mais uma vez a companhia de um cachorro, na medida em que seria obrigada a levá-lo passear todos os dias. Minha cachorra Rebecca, uma Sheepdog linda e altiva, ajudou-me a superar não só a depressão e o diabetes mas também transformou por completo minha personalidade. Ela era a rainha da simpatia de minha rua, paparicada por moradores e funcionários de vários condomínios, e atraía a atenção de praticamente todos os passantes, fossem eles pedestres ou motoristas. Graças a isso, passei a ser vista como uma pessoa igualmente simpática.
Como ela era muito impulsiva e muitas vezes me arrastava pelas ruas, resolvi contratar um adestrador profissional. As dicas que ele me passou ao longo dos meses de nossa convivência foram decisivas para mudar meu entendimento a respeito do mundo dos cães e para desenvolver novas formas de comunicação com eles. Fiz várias experimentações com sons, gestos, olhares e posturas corporais, anotando cuidadosamente as reações obtidas. Um universo fascinante se abriu diante dos meus olhos. A troca de informações com os donos de outros animais complementou o prazer dessas descobertas. Para meu pesar, Rebecca se foi cinco anos mais tarde, vítima de uma leucemia, me deixando com uma sensação de completa inutilidade e despreparo para continuar vivendo sem a companhia iluminadora de um cão.
Tenho hoje duas cachorras: uma Bernese Mountain Dog de 7 anos, a Molly, e uma Golden Retriever de 5 anos, a Aisha. A convivência com as duas é extremamente pacífica, o que me abre um espaço de autoconfiança para aprofundar meus conhecimentos a respeito da relação saudável e prazerosa entre pessoas e seus bichos.
Quero, com este blog, trocar ainda mais figurinhas com todos os que me lerem, sejam eles donos ou não de animais. Convido a todos a me contarem suas experiências pessoais e a me ajudarem a descortinar novos horizontes dentro do universo humano e canino.